sexta-feira, 29 de abril de 2011

DOZE CONTOS PEREGRINOS de Gabriel García Márquez

Título: DOZE CONTOS PEREGRINOS
Autor: Gabriel García Márquez
Ilustrador:
Editora: Record

Existem livros que conseguem reunir impressões raras sobre os homens. Assim é “Doze contos peregrinos” (Doce Cuentos peregrinos) do escritor colombiano Gabriel García Marquez. Traduzida no Brasil por Eric Nepomuceno através da editora Record, a obra traz os melhores contos escritos durante 18 anos entre a década 70 e 80. Como o prefácio anuncia, “Foi uma rara experiência criativa que merece ser explicada... a primeira idéia me ocorreu no começo da década de setenta, a propósito de um sonho esclarecedor... sonhei que assistia ao meu próprio enterro... Não sei por que, interpretei aquele sonho exemplar como uma tomada de consciência da minha identidade, e pensei que era um bom ponto de partida para escrever sobre as coisas estranhas que acontecem aos latino-americanos na Europa...”  



Com este impulso, o escritor anotou no caderno escolar de um de seus filhos, 64 temas sobre fatos que lia e também tudo o que observava ao seu redor numa viagem de férias para Barcelona em relação a situação muitas vezes constrangedora de latino americanos no Velho Mundo. “É uma coleção de contos curtos, baseados em fatos jornalísticos, mas redimidos de sua condição mortal pelas astúcias da poesia”. E poesia é que não falta na complexidade da obra considerada uma das mais importantes do mundo da literatura, recebendo em 1982 o Prêmio Nobel.



A linha que costura os contos é a solidão dos que peregrinam pelo mundo - muitas vezes sem perspectivas de sonhos - tendo Genebra, Roma, Paris e Barcelona como pano de fundo. Nesse contexto, os personagens vivem a trágica monotonia da vida de uma maneira Garcia Marquez de ser, carregando a suavidade e o peso do estilo de obras como “Cem Anos de Solidão” ou “Memórias de Minhas Putas Tristes”. Um dos personagens interessantes do livro é Maria de Cervantes no conto “Só Vim Telefonar”, o quinto dos doze contos. Nele, a história de uma atriz mexicana aluga um carro para viajar até Barcelona. No deserto de Monegros o carro quebra e ela pede ajuda e um ônibus muda o seu destino. Confundida como louca – semelhante as que estavam no ônibus – Maria passa a viver um confinamento em um hospício e perde todo seu passado em algumas semanas. A forma como Marquez constrói o conto é primoroso. O leitor consegue viver toda a dor, solidão e angústia de Maria de Cervantes e as 23 páginas parecem durar toda uma vida.



Durante o processo, o escritor percebeu a complexidade de se escrever contos. “o conto, por sua vez, não tem princípio nem fim: anda ou desanda”... e assim teceu como mestre que é uma colcha de retalhos do fino de sua literatura, levando na obra a angustia de se buscar na vida um pouco mais de sonho, seja como for.


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